quarta-feira, 25 de julho de 2012

O caminho do toque

Além de relaxar pele, músculos e nervos, o toque mexe com as energias invisíveis que produzem e mantêm uma vida saudável e equilibrada.

Com uma história de milhares de anos, a massagem pode ser vista como uma vocação da humanidade - você já percebeu que o toque faz parte da sua vida? O jeito oriental de fazer massagem nasceu na Índia, há mais de 6 mil anos, está registrado nos Vedas e é quase tão antigo quanto o yoga. A visão das linhas de energia, e de que cada apertãozinho se liga a órgãos internos, às emoções e ao seu equilíbrio, foi para a China, depois para o Japão e em seguida para toda a Ásia. Em cada lugar, uma adaptação à cultura local, um novo toque.

Na Grécia antiga, o pai da medicina, Hipócrates (470-410 a.C.), utilizava fricções no corpo para melhorar a circulação sanguínea de seus pacientes. Nessa escola ocidental, estruturada na anatomia humana, todas as conexões musculares com os ossos e órgãos são revistas. Afinal, não dá pra pensar em aliviar a freqüente tensão dos ombros sem, muitas vezes, alongar as panturrilhas.

E vale muito repensar sua relação com a gravidade - é provável que você se lembre. aquela força que vai nos empurrando para o chão e pressionando todo nosso esqueleto, até o ponto do desgaste. A gravidade está presente em qualquer ação que se faça, por menor que seja.

Existe, é claro, uma sintonia - ou não - entre você, seu desconforto, seu problema e a massagem ideal, o método, a técnica, o jeito do terapeuta. Além disso, algo que se pode sentir na pele: para cada necessidade, um jeito e uma combinação de tocar. Pode-se sedar ou energizar. Usar um dedo só, ou vários, a mão aberta ou fechada. Vale a palma da mão, o dorso, o punho fechado, os cotovelos e até os pés. Agora, a escolha de qual técnica é melhor para seu problema, isso é subjetivo, é relativo, misterioso. Mas, é claro, rastreamos algumas pistas e agora vamos a elas.

A hora da escolha

Se você estiver em busca de outras possibilidades para seu corpo físico, sente-se disposto a mudar sua postura e seu jeito de andar, a RPG e o rolfing podem ser muito úteis. Ao pensar numa revisão de hábitos, de jeito de viver, comer, e entrando em uma visão de melhorar o funcionamento dos seus órgãos, vale a pena pesquisar o tui ná, o shiatsu, a massagem ayurvédica e a massagem thai.

Relaxamentos profundos, bastante indicados para excesso de trabalho e estresse - você também deve saber do que estou falando. - podem ser alcançados por meio da reflexologia e do watsu. Para aprender a fazer em si mesmo, do in. Para aplicar nos bebês e filhos pequenos, a shantala oferece ensinamentos simples e efetivos.

Experimente. Quem se toca e toca os outros adota seu corpo, com alma e tudo. E entra em contato com o que está além, para além das suas mãos, para além de você.

Ayurvédica um passeio a pé pelas (suas) costas

Estava em paz até ter de tirar a calça. Diante da minha paralisia, Veena Mukti, a terapeuta ayurvédica - uma simpatia só -, confirmou se eu estava de cueca (estava) e repetiu: "Sim, é para você tirar a calça".

O constrangimento inicial - recomendo a você ir com sua melhor roupa íntima, para evitar um vexaminho - demorou um pouco a desaparecer, mas à medida que a terapeuta me empurrava para vários lados, alongando bem meu corpo, e depois que ela literalmente subiu com os pés em minhas costas e, com eles, pressionou todos os espaços tensos entre minhas costelas, relaxei. Qualquer um relaxaria com aquilo.

Dentro de uma medicina que indica dietas, remédios de ervas e meditação, a massagem ayurvédica é uma técnica por vezes vigorosa, estimulante, que libera as toxinas presas aos músculos. Traz calor ao corpo, alinha a postura.

Essa ciência da vida começou na Índia, há mais de 6 mil anos. A visão ayurvédica compreende a existência de cinco elementos - o espaço, o ar, o fogo, a água e a terra - combinados em três doshas, ou humores, e que cada um de nós se encaixa em um desses humores (entenda mais a medicina ayurvédica revisitando a edição 5 de vida simples). Assim, a essência escolhida - a massagem ayurvédica usa e abusa de óleos aromáticos e extratos de ervas medicinais - irá combinar com o seu tipo de humor.

Maurício Stellato, que se submete a essa massagem há três meses, teve uma melhora tão radical nas dores das suas costas que a transformação mais marcante em sua vida foi exatamente essa: "Meu humor melhorou radicalmente". E isso, como sabemos, faz toda a diferença.

Do in você e sua família

Cresci folheando o pequeno livro, hoje bem amarelado. Achava aquele do in bacana, mas tinha minhas dúvidas. Quando iria precisar apertar todos aqueles pontos? Para que, afinal, aliviar a ansiedade? Como alguém poderia ter insônia? Aos 10 anos de idade, tudo isso era improvável. Não imaginava quantas vezes esses conhecimentos poderiam ter sido úteis até hoje.

O do in é uma técnica milenar chinesa. No Japão, ganhou o nome atual, que significa "o caminho de casa" - casa é o corpo, morada do espírito e do chi, a energia vital. Seu primeiro e mais corriqueiro uso é familiar, apesar de ter sido popularizada como sinônimo de automassagem. Faz sentido. Outro dia, ouvi de uma amiga que ela e a irmã diariamente faziam do in no pai, quando este lutava contra o câncer. "No final, a dor quase desapareceu", diz ela.

Fácil de aplicar, o tratamento no do in baseia-se na pressão com o polegar sobre os centros ou pontos de captação e armazenamento de energia do organismo. "Ao conhecer esses pontos, você pode dar uma geral em toda a energia do corpo e fazer, com as próprias mãos, a manutenção diária de sua vitalidade", diz Juracy Cançado, o introdutor do do in no Brasil.

Aprender do in exige fazer cursos ou mergulhar em livros que mostram os inúmeros pontos.

Reflexologia o corpo nas entranhas do pé

O gato na janela parece querer entrar na casa, ao ver minha cara de felicidade enquanto Ângela Amorim navega suas mãos por meus pés. Ela vai me contando que nos pés há 26 ossos, 100 ligamentos e mais de 7 mil terminações nervosas.

A terapeuta de reflexologia segue ponto a ponto, hora pressionando, hora deslizando, passando creme. Cada centímetro do pé vai relaxando e, sim, é verdade, o corpo derrete junto. Em poucos minutos dormi profundamente no sofá. "Nos pés encontram-se áreas que refletem todos os órgãos e glândulas do corpo. É muito importante tratar bem deles, pois são a base do seu eixo vertical, é a direção da sua vida", diz Angela.

Foi baseada na medicina chinesa tradicional que a massagista americana Eunice Inghan desenvolveu um método de massagem só com pressões puntiformes sobre os pés. Para quem não gosta de expor o corpo, esse é o toque. E, para quem se candidatar, um lembrete: sempre é bom ir à sessão com seus pés bem cuidados, evitando uma saia-justa.

Rolfing para ver novos horizontes

Ida Rolf, criadora do método rolfing - ou integração estrutural pelo movimento - desenvolveu um trabalho que reorganiza completamente nossa formação corporal, de maneira a equilibrar o móbile que somos. Porque a relação do homem com a gravidade, a reação de nossa estrutura perante essa lei poderosa, varia conforme o modo como cada um de nós se posiciona e se locomove no mundo.

Achei que ia ter uma sessão de "abrir o coração", "soltar as emoções" (minha amiga Juliana me contou assim sua experiência). Cheguei animadíssimo. Beatriz Whitaker, terapeuta rolfista, estava na grama, esticando o corpo. Daí que conversamos sobre a gravidade por quase duas horas em um banquinho ao lado do gramado.

Ali, enquanto anotava, comecei a sentir insistentes dores nos ombros após a primeira maratoninha de conversa. Na hora, Bia me mostrou que eu estava sentado de forma tal, e só ao mudar a maneira como apoiava os pés no chão tive a tensão de meus ombros imediatamente aliviada.

O rolfing também é conhecido por demandar um mínimo de dez sessões. É uma massagem profunda, que libera muitas tensões acumuladas. "Tocamos as fáscias, uma membrana que nos envelopa desde as fibras musculares até os ossos. Então, quando você as toca, você devolve a elasticidade interna, que nos é natural", afirma Bia.

Antes de ir, outra dica: olhar pra frente enquanto andamos. Parece simples? Observe alguém que anda olhando para baixo. Dá para ver seu pescoço sendo puxado, suas costas se curvando pra frente. Imagine a gravidade acertando essa estrutura torta, tensionando tudo mais ainda.

"Mostro as possibilidades de uso do corpo humano, como podemos usar esse veículo de forma menos desgastante, mais natural. A postura e a locomoção corretas irão tirar as 'mochilas' extras, limpar os pesos do corpo." Pensei que ia abrir o coração, mas acabei ampliando minha visão, passei a olhar a vida de frente.

RPG pondo ordem na casa toda

Claro, aqui não estamos falando daquele jogo de cartas, mas sim de reeducação postural global, uma técnica de fisioterapia que, através de exercícios posturais, alongamentos musculares e, claro, massagens, busca tirar a tensão das junções dos músculos, que se sobrepõem. Esses engavetamentos são comuns e ocorrem por erros de postura, respiração incorreta, sua história de vida, sua genética - a tal mãozinha de Deus. E aí é reordenar, reencaixar.

A fisioterapeuta Samira Zahr massageou um paciente na minha frente - aliás, mais um aturdido jornalista que travou as costas. Ficamos conversando enquanto os exercícios de postura eram penosamente executados, ele mesmo curioso em saber o que estava acontecendo com seu corpo e qual o significado dos toques.

"Antes de relaxar os músculos e nervos, a RPG oferece estrutura, firmeza. O principal é ensinar a pessoa a se manter, a se colocar de forma correta, para que novas lesões não aconteçam", diz Samira. "Não adianta aliviar as dores de alguém se por hábitos posturais, sejam físicos ou emocionais, essa pessoa continua a machucar seu corpo. Ela precisa adotar seu corpo e cuidar sempre dele."

Uma parte dos fisioterapeutas também utiliza a técnica GDS, que são as iniciais do fisioterapeuta e osteopata belga Godelive Denys-Struyf, responsável por seu desenvolvimento. O método de trabalho criado pelo especialista nasceu de sua observação de como os indivíduos utilizam o próprio corpo para realizar diferentes movimentos.

Shantala aos recém-nascidos

Lembro-me de um tempo em que uma das melhores brincadeiras entre os amigos era tentar adivinhar quem "ganharia Shantala" (o nome da massagem é também o nome do livro que contém os tais ensinamentos). A natureza estava pródiga e vários casais engravidaram no mesmo ano. E a maioria começou a estudar essa tradicional massagem indiana, que tem seus fundamentos no yoga e na medicina ayurvédica.

Na Índia, a shantala é parte da cena familiar: todos praticam. Desde o momento do nascimento, massageia-se o bebê com óleo, inclusive quando ele chora. A massagem é feita com as mãos e segue 20 movimentos definidos. As mães sabem que a ação das mãos aumenta a circulação sanguínea e a flexibilidade do bebê. Bom para as crianças, que recebem a massagem todos os dias, até completarem 3 anos de idade. Depois, irão receber shantala uma ou duas vezes por semana até os 6 anos.

Essa tradição passa de mãe para filho, de mulher para mulher da família. (No Brasil, a Natura desenvolveu uma linha de produtos para a mãe fazer shantala no bebê.)

Shiatsu dói , mas é bom

Shi = dedo, atsu = pressão.

Originário da China, o shiatsu ganhou seu formato dolorido e preciso no Japão, onde fincou raízes, fez história e criou método próprio. A técnica oriental conjuga a massagem, alongamentos e a pressão dos dedos tanto nos pontos de acupuntura como nos meridianos (canais por onde a energia vital circula no corpo). É um tipo de "acupuntura com os dedos". Através dos canais - os tais meridianos - uma corrente vibracional circula conectando o céu (yang), no centro espiral da cabeça, à terra (yin), na parte inferior do corpo.

Impossível não dizer que shiatsu dói bastante. Também impossível não esclarecer que o alívio é proporcional às dores. Passado o furacão, sentimo-nos nas nuvens, de tão leves. Um dos momentos mais felizes da massagem é quando se encaixa o pescoço em um buraquinho da maca, e ombros e nuca são massageados com certo vigor. Relaxa, e muito.

Mas o shiatsu não precisa sempre de maca, pode ser aplicado no chão ou no tatame. "O coração do shiatsu é como o puro amor materno. A pressão das mãos faz fluir a fonte da vida", diz um antigo provérbio.

Thai sopros da luz de buda

A antiga massagem thai faz parte da tradição médica da Tailândia. Conta-se que foi desenvolvida por Jivaka Kumar Bhacca, um contemporâneo de Buda, há cerca de 2 500 anos. A tradição foi passada oralmente de geração em geração, até que finalmente foi escrita na linguagem pali - em folhas de palmeiras! - e vista como texto sagrado.

Até hoje é possível sentir uma atmosfera espiritual, luminosa, que cerca essa prática. A medicina tradicional tailandesa desenvolvida nos wats - ou monastérios - compreende também remédios nutricionais, fitoterápicos, banhos e práticas espirituais.

Essa massagem, até há bem pouco tempo, era praticada somente por alguns monges budistas. "Ao atender a população de suas comunidades, os monges na verdade praticavam o toque da compaixão. Esse é o sentimento da massagem tailandesa", afirma Javier Pizarro, terapeuta thai.

Tui ná só com diagnóstico

Combinado com ervas, acupuntura e exercícios terapêuticos - como o tai chi chuan -, o tui ná é um dos quatro pilares da medicina chinesa. Ao buscar o equilíbrio do yin e do yang, a medicina tradicional chinesa compreende que todo o corpo é permeado e nutrido através de canais de energias (os meri-dianos), os quais interconectam os órgãos e suas respectivas funções. Assim, quando por meio das manipulações apropriadas do tui ná o equilíbrio entre o yin e o yang é alcançado, o indivíduo restabelece a saúde do seu corpo.

Por isso, cada estímulo tem um porquê. Cada segundo de contato em um ponto tem um propósito específico no tratamento. "A massagem é uma receita, feita com base em um dignóstico. Ela é pensada e feita para tocar sua energia e afinar seu instrumento", diz Alberto Fiaschitello, terapeuta de tui ná. Em geral, os tratamentos são criteriosos e mudam conforme a necessidade do paciente.

Watsu de volta ao útero

O watsu, ou water-shiatsu, foi criado pelo americano Harold Dull nos anos 60, após ele ter estudado no Japão com um mestre em zen-shiatsu. As sessões são feitas em piscinas aquecidas. O calor da água, associado à sensação de ausência de peso, reduz a tensão muscular e traz alívio para a dor e para uma melhor fluidez dos movimento dentro e fora da água.

O corpo desliza, vai pra cá, pra lá, parece ser feto, parece voltar ao útero. Com os alongamentos, ocorrem estímulos aos canais de energia.

A verdade é que a sessão, pra mim, trouxe um choro nos olhos, daqueles que dão um sorriso no canto da boca. Não dá nem vontade de contar a história do watsu, apenas lembrar daquela flutuação. Sem dúvida, a grande massagista aqui é a água.
Dicas dos especialistas para você mesma fazer uma massagem"Um cabo de vassoura no chão é o ideal para tirar os nódulos dos pés. Um pé de cada vez, pise bem devagar, começando com as pontas dos dedos. Mantenha a posição por 30 segundos. Depois apóie a planta dos pés e por fim a base do calcanhar. Coloque novamente o pé no chão e compare, sinta a diferença. Por fim, trabalhe o outro pé."

Samira Zahr, fisioterapia

"Mude de sapato no meio do dia, para não sacrificar seus pés - eles não foram feitos para ficar abafados muito tempo. Se isso não for possível, tire os sapatos por uma meia hora. Na hora de deitar, com um creme hidratante, massageie todo o pé. Aperte a palma, os dedinhos, entre eles. Ajuda a descansar e dormir melhor."

Ângela Amorim, reflexologia

"Durante o dia, preste atenção em como você está sentado. Ajuste o corpo do peso em cima dos ísquios - aqueles ossos que sustentam seu corpo quando você se senta - e mantenha a postura correta. Apóie os pés completamente no chão. Isso irá lhe passar firmeza e você vai cansar menos."

Beatriz Whitaker, rolfing

"Aprender a respirar usando o abdômen é importante. Procure levar o ar até o abdômen. Esse movimento do diafragma provoca a massagem em todos os órgãos internos, o que traz inúmeros benefícios. Sua mente se tranqüiliza, a circulação melhora, o processo digestivo flui e a ansiedade diminui."

Alberto Fiaschitello, tui ná

Amigoterapeuta: empatia com massagista é essencial
Um dos momentos reveladores numa sessão de massagem é quando colocamos nosso pescoço nas mãos do massagista, literalmente, para que ele, usando sua técnica, o faça estalar. Ora, não é pra qualquer um que confiamos nosso pescoço. Mesmo que seja um bom profissional, pessoa indicada por amigos e tal, tudo é uma questão de olho no olho, pele com pele. Se não bate, não bate.

Da mesma forma como ao encontrar alguém você intuitivamente já gosta da pessoa ou não, isso vai valer para o terapeuta. Você pode até se enganar em sua percepção, cometer uma injustiça, mas eis um caso no qual é bem bom seguir o coração. Porque, durante a massagem, não dá pra ficar desconfiado, inseguro, pois isso pode criar uma barreira, tirando a naturalidade dos gestos, do contato do massagista. Uma linha fina, um caminho estreito. Com o tempo, o terapeuta pode se tornar um amigo, um confidente, um conselheiro: ele vê em nosso corpo uma história de vida e também o jeito como vivemos hoje.




Por Alessandro Meiguins

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