Uma vez perguntei a um amigo cineasta e antropólogo, que passou um tempo num projeto para filmar uma comunidade indígena no Mato Grosso, se os índios lá se massageavam. E ele me disse que não. Então, ele corrigiu e disse: “ah, somente quando o bebe nasce, sim, por algum tempo a mãe massageia o bebê.” E eu ri, porque pra mim isso é o fundamental. Se, ao nascer, o indivíduo é recebido com um profundo acolhimento e contato com sua mãe (ou pais, melhor ainda), isso é suficiente. Se continuar tendo isso por mais tempo, melhor ainda. Quando se tornar um adulto, não haverá necessidade de massagem. O toque será espontâneo, natural, um reflexo do amor e da amizade em um relacionamento, da comunicação amorosa através do tato. Mas nós temos isso na nossa vida moderna e tão agitada? Você já refletiu sobre este aspecto na sua vida diária? Como você toca seus familiares, seus amigos, pessoas que você não conhece? Você sente necessidade de ser tocado? Ou, esse assunto nem passa pela sua cabeça?
Hoje é muito comum as pessoas receberem uma massagem, principalmente nas grandes cidades. A ida a um massoterapeuta se tornou algo mais acessível, digamos assim, do que era 20 anos atrás. Existem massagistas que atendem à domicílio e trabalham dia e noite; as cidades estão cheias de Spa´s urbanos, clínicas de massagem e até nos shoppings as pequenas tendas de quick massage se multiplicam sem parar. Massagens e massagistas conquistam seu espaço no mercado de serviços e se profissionalizam em técnicas variadas para melhor atender seus clientes. Oriental ou ocidental, terapêutica ou estética, a massagem já faz parte da formação de profissionais na área da saúde em diversas universidades brasileiras e escolas técnicas. E isso é muito bom!
Eu entendo este processo como natural e benéfico para o desenvolvimento e o crescimento profissional voltado para o mercado de serviços de bem-estar e qualidade de vida no Brasil. Mas não quero tratar sobre a regulamentação da profissão ou sobre a necessidade de se ter mais cursos profissionalizantes de nível técnico ou nível superior.
Sinto necessidade de falar sobre a essência e a qualidade do toque, sobre a necessidade primordial do ser humano de explorar sua capacidade de aprendizado através do sentido do tato e do maior órgão do corpo humano: a pele. Ainda, temos muita dificuldade como profissionais para romper com as barreiras e preconceitos de uma sociedade altamente industrializada e tecnologicamente evoluída, mas extremamente carente de amor, como falamos em nosso artigo anterior. Também gostaria de falar um pouco, dentro deste tema, sobre algo que me afeta particularmente.
Você já ouviu falar da massagem tailandesa, não é?
É isso mesmo, você sabe o que é a massagem tailandesa? Você pode até se admirar de saber que o termo “massagem tailandesa” é um dos termos de busca mais usados no Google quando o assunto é massagem. E, aposto que você já está pensando: “ Ah! sei, é aquela massagem que a massagista fica nua e se esfrega com óleos sobre o corpo também despido do cliente?!!! “ Ou, então: “ah, muito legal, super sensual e relaxante!!! E onde é que eu encontro isso? Posso achar pelo Google ou em algum vídeo no YouTube?!!! Nossa! Achei aqui no portal da Vila Mariana!!!”. Geralmente é isso que eu escuto falar quando digo que eu faço massagem tailandesa. Pois é, acho que posso contribuir para explicar e começar a mudar esta imagem tão deturpada sobre uma arte de cura tão antiga e profunda, da qual, nós brasileiros, podemos nos beneficiar amplamente se deixarmos de lado essa visão preconceituosa sobre o que é a massagem tailandesa.
Não é massagem erótica? Não, não é. Trata-se de massagem, simples massagem, massagem com roupa, com o cliente e o massagista totalmente vestidos e, de preferência, com roupas de algodão e fibras naturais. A massagem é feita no chão, sobre um tatame ou colchonete confortável. Esta massagem, profundamente amorosa, é uma arte de cura muito antiga e devocional, praticada por monges budistas há mais de 3.000 anos que migraram da Índia para o Sião, que hoje é a Tailândia. A Massagem Tradicional Tailandesa é uma parte integrante da Medicina Tradicional da Tailândia que engloba várias artes, ou técnicas, de tratamentos com ervas medicinais, banhos, compressas, massagens e alimentação, além de práticas filosóficas e espirituais originárias do Budismo, do Yoga Clássico, da Medicina Ayurvédica e, também, da Medicina Tradicional Chinesa.
Pois é, não é pouca coisa não. Embora pareça simples, a sabedoria e o conhecimento que está por trás desta técnica oriental é muito antigo e foi passado de geração em geração e é praticado popularmente, principalmente na região norte da Tailândia. E, não faz muito tempo que a prática desta medicina tradicional tornou-se reconhecida e valorizada como um patrimônio nacional pelo Governo Real da Tailândia. A massagem na Tailândia é uma prática muito comum nas famílias, principalmente nas zonas rurais. Com a entrada de ocidentais no país cada vez mais intensa, por diversos motivos, desde o início dos anos 70, se tornou uma forma de prostituição e sobrevivência fácil para uma parte marginalizada da população de baixa renda. Este fato fez com que o governo tentasse proteger e institucionalizar este conhecimento e a prática da Medicina Tradicional Thai, através de projetos de criação de escolas oficiais, regularização dos profissionais e outras providências junto aos organismos internacionais para tornar esta prática de saúde reconhecida e respeitada internacionalmente.
Eu demorei um pouco para resolver escrever sobre este assunto, pois já faz algum tempo que venho me dedicando a estudar e praticar este estilo profundo e maravilhoso de autoconhecimento que é a Massagem Tailandesa, ou como os tailandeses preferem chamar, Massagem Tradicional Thai, ou Massagem Thai Yoga. Não estava nem um pouco preocupada em explicar para as pessoas qual a diferença entre os diversos estilos de massagens, ou se é erótica ou terapêutica. Não sentia necessidade de fazer esta diferenciação, a princípio, embora este assunto seja relevante para a divulgação desta técnica, principalmente, para os tailandeses e terapeutas no mundo todo.
Desde 2005, quando me encantei pela massagem tailandesa, percebi que havia algo mais para aprender além de me profissionalizar em mais uma técnica. Por trás dos gestos lentos e dos alongamentos suaves de professores amorosos e muito pacientes, eu pude compreender e sentir este propósito mais profundo de uma massagem, que é como um “toque do coração”, uma massagem para despertar o amor que não sentimos mais, nem por nós, nem pelos outros, nem pela vida. A verdadeira cura começa aqui, quando nos abrimos para o amor incondicional por nós mesmos e começamos a caminhar com mais coragem pela vida.
Penso que se não pudermos viver esta experiência como cuidadores, terapeutas ou profissionais da saúde, não haverá possibilidade de cura mais profunda e transformação social, pois o sofrimento e as doenças não vem somente da falta do toque, mas da falta desta qualidade intrínseca do toque e da consciência inata do corpo que sente na pele a falta de comunicação e contato, desde os primeiros instantes do nascimento.
Também compreendi, naquele momento, num simples curso de massagem tailandesa, que eu havia escolhido o caminho certo. Era mais do que mudar de profissão, ou mesmo encontrar uma vocação, como antes eu buscava. Eu senti que estava acessando um conhecimento precioso, inato, que jamais foi perdido, só precisava ser tocado, redescoberto, lembrado. Era “o” saber por mim mesma, pela minha própria experiência o que o meu corpo precisa e, assim também poder ajudar outras pessoas a sentir o mesmo. Isso é Massagem Tailandesa!
Neste sentido, aprender e praticar massagem pode se transformar num caminho muito belo e seguro para o autoconhecimento e, além disso, uma passagem para uma sociedade mais amorosa, humana e compassiva, à medida que nos despimos de nossos preconceitos e barreiras para tocar nos pontos fundamentais de nossa existência humana.
Para saber mais sobre massagem tailandesa, visite o site:
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